#31
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by Luigi » Sun Jun 12, 2005 9:15 pm
I wrote this review last year and published it in my blog. Unfortunately, it's in Portuguese. Anyway, if you can read it I think you're going to enjoy my thoughts about this fantastic movie.
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Encontros e Desencontros: uma janela para a vida
Em Lost In Translation, alguns elementos aparentemente poéticos revelam-se profundamente simbólicos. Ao assistirmos o filme despretensiosamente, não notamos esses aspectos. Mas uma observação atenta logo revela a perspicácia -- estética e cultural -- do olhar de Sofia Coppola.
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Mais que perdidos na tradução, como o título em inglês sugere, os protagonistas estão perdidos em meio aos exageros da comunicação de massa, ou melhor dizendo, do entretenimento massificado. Por todos os lados, vemos luminosos, pôsteres, anúncios, luzes, música, cores artificiais, enlatados na TV, videogames, vítimas da moda. É a sociedade do espetáculo, usando o conceito criado por Guy Debord, em toda a sua glória. Na Tóquio do filme, observamos nitidamente o que os atuais teóricos da comunicação chamam de “síndrome do excesso de informação”. O fato dessa informação estar em japonês, língua completamente alienígena para nós, ocidentais, apenas ressalta o estranhamento, a sensação de solidão. A overdose informativa, ao invés de aproximar as pessoas, as afasta -- ficamos como pequenos náufragos sendo levados pelas ondas do mar midiático. O máximo que podemos fazer, como Bob Harris e Charlotte no filme, é observar com um certo distanciamento, tentando decifrar o que move todo aquele universo. Observar tudo por meio de janelas, janelas de automóveis em movimento ou da altura reconfortante do Hotel Hyatt.
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De fato, janelas estão sempre presentes no filme. Charlotte vê Tóquio de cima, do quarto do hotel, durante o dia e também à noite, com sua miríade de pontos luminosos. Ela também vê Tóquio lá embaixo, circulando em táxis amarelos, iguais aos de Nova Iorque. E rua após rua, esquina após esquina, um mar de signos, significados e significantes. Um contraste brutal com a falta de comunicação íntima entre os casais do enredo, ou melhor, entre todos os habitantes das grandes metrópoles. Não é preciso estar em Tóquio para sentir esse vazio. Não é preciso fazer parte de um filme, pois todos nós somos Bobs Harris e Charlottes, personagens da vida real querendo ser encontrados, notados. A busca frenética pelos quinze minutos de fama jogou para baixo do tapete a busca por um relacionamento rico, simples e pleno de sentimentos.
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Uma vez que as janelas da vida estão cada vez mais embaçadas pela tempestade da comunicação massificada, as pessoas começam a buscar uma saída em outras janelas. Ponto para Bill Gates, que soube batizar seu produto de maior sucesso. Ora, vejam só. É com ajuda do Windows, ironia suprema, que a maioria dos internautas busca companhia nas inúmeras salas de chat, nos blogs (como este), nos flogs e nos instant messengers. Lá fora, atrás do vidro, só vemos néons em japonês, por mais que nos esforcemos a entender -- então, quem sabe, talvez as respostas estejam atrás de um computador, com seus chips made in Taiwan. Quem sabe. Sofia Coppola não chegou a esse ponto, mas passou perto.
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Falando em relacionamentos ricos, simples e plenos de sentimento, há tempos não via uma química tão forte entre personagens de um filme. Bill Murray e Scarlett Johansson transmitem um força intensa em cada ato, em cada “olá” simpático trocado nos corredores do suntuoso hotel. A ligação que surge entre os dois é tão pura que não merece ser conspurcada pelo sexo. É algo muito além da simples troca de fluidos corporais, coisa, aliás, que o personagem de Bill Murray faz com a cantora do bar, sem nenhum glamour, apenas um grande ressentimento na manhã seguinte.
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O final de Lost In Translation é o pico emocional da história. Não é um final particularmente feliz, mas carregado de força dramática. Apesar de não ouvirmos o que Bob diz a Charlotte em meio à agitação da rua apinhada, conhecemos em nosso íntimo cada palavra. Em meu cérebro, toda vez que vejo esse cena, escuto algo como “Tóquio sempre será nossa. Lembre-se disso.” Assim como eu, cada espectador tem a sua versão, o seu desfecho oculto --, formulado enquanto começa a tocar os primeiros acordes de Just Like Honey, do Jesus & Mary Chain. É quase impossível não deixar rolar uma lágrima.
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E você? Está acordado ou continua mergulhado em sonhos de néon? Quem é você, afinal? Está conformado ou quer More Than This?
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Luigi on Mon Oct 11, 2010 5:02 pm, edited 1 time in total.